Oncologia de Precisão: do Diagnóstico ao Tratamento (parte 1)

O câncer é uma doença bastante antiga: há evidências de tumores fossilizados em múmias egípcias e o próprio termo “carcinoma” para se referir a doença foi usado pela primeira vez por volta de 400 A.C., por Hipócrates.

Atualmente, todo ano cerca de oito milhões de pessoas morrem de câncer no mundo. No Brasil, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é de que quase 190 mil pessoas morreram em 2013 em decorrência da doença. Entre os homens, o tipo de câncer mais comum é o de próstata, já nas mulheres os principais é o de mama.

Embora o panorama pareça desanimador, a boa notícia é que as chances de cura estão cada vez maiores. A produção do conhecimento científico, especificamente para a doença, tem crescido progressivamente na última década. Um dos destaques é o avanço na área conhecida como Oncologia de Precisão. Graças a ela, é possível compreender a composição genética de uma pessoa e compreender a biologia do tumor.

Ou seja, nada de tiros no escuro: com essas informações, os médicos podem identificar estratégias mais eficazes de prevenção, rastreamento e tratamento dos tumores, com menos efeitos colaterais do que nas terapias convencionais.

Com o crescimento do conhecimento genético, os pesquisadores descobriram que o fato de nem todos os pacientes responderem bem ao tratamento poderia estar relacionado a diferenças genéticas das pessoas e de cada tumor. A teoria foi uma munição preciosa para explorar novas formas de tratamento baseadas nestas diferenças de DNA.

Atualmente, embora os pacientes ainda possam receber o tratamento convencional, entre eles a cirurgia para retirar o tumor, que aliás também se tornou mais precisa, é possível também recomendar terapias especializadas.

 

Oncologia de Precisão

 

COMPREENDENDO A ONCOLOGIA DE PRECISÃO:

É consenso entre a comunidade científica que o câncer é uma doença extremamente heterogênea, o que explica tanto a diferença entre as células cancerosas entre pacientes diferentes, como entre os tumores em um mesmo paciente.

Mesmo com todos os avanços na oncologia, encontrar uma única pílula para curar todos os tipos de câncer ainda parece algo muito distante da realidade. A aposta atual da medicina de precisão é justamente o oposto disso: ora, se cada paciente possui um perfil genético diferente, cujo perfil pode modificar ao longo do tempo, faz mais sentido buscar opções personalizadas para cada um, certo? Para isso, ela se baseia em duas principais estratégias, a da terapia alvo e a farmacogenômica.

A terapia alvo tem entre os objetivos mudar a prática médica da reação para a prevenção. Ao contrário de esperar o aparecimento de um tumor para então tratá-lo, ela busca prever a susceptibilidade à doença, melhorando a detecção e antecipando a progressão da enfermidade. Afinal, as chances de cura aumentam significativamente quanto mais cedo for o diagnóstico. Com a terapia alvo, identifica-se genes, proteínas ou tecidos cancerosos específicos que podem contribuir para o crescimento do câncer.

Já a farmacogenômica analisa a forma como os genes do paciente afetam a forma como ele responde aos medicamentos, em vez de testar o tumor para identificar a presença de um gene ou proteína específica. Isso significa que ao contrário de seguir o padrão de definir a dose de quimioterápico com base na superfície corpórea, a farmacogenômica ajusta a dose de acordo com a forma como o paciente metaboliza o medicamento, como ele se distribui pelo corpo e pelo tempo que permanece circulando no organismo. Essas diferenças podem alterar a eficácia e a segurança da terapia para cada pessoa. Por exemplo, se uma pessoa processa um medicamento mais rapidamente do que outra, talvez ela deva receber doses mais elevadas das drogas para obter a mesma resposta que outros pacientes. Por outro lado, se o organismo não processa a droga suficientemente rápido, ela poderá permanecer no sangue por mais tempo do que o desejado, causando efeitos colaterais mais severos.

As vantagens destas estratégias são muitas. Com a oncologia de precisão, é possível prescrever medicamentos mais eficazes, evitando o uso de drogas com efeitos colaterais previsíveis. O tempo, custo, e taxa e insucesso de estudos também é reduzido. E, finalmente, elimina-se as ineficiências de tentativas e erros que aumentam os custos da saúde e prejudicam o atendimento ao paciente.

Embora questões como o custo benefício de apostar no estudo do genoma, que exige alta tecnologia, a área poderá direcionar a forma como tratamos o câncer, tornando-a cada vez mais eficaz e segura.

Portanto, previna-se, faça seus exames regularmente, seja uma pessoa saudável e VIVA PLENAMENTE!

 

Dr. Renato Cramer
Médico Oncologista Clínico CRM/RS 26.802

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